Trump é o melhor “assessor” de Putin
A cena foi constrangedora: no Salão Oval da Casa Branca , Donald Trump e seu vice, J.D. Vance, vociferando contra Volodymyr Zelensky, como se a Ucrânia fosse uma nação subalterna ao império norte-americano. O presidente dos Estados Unidos não apenas negou um apoio mais robusto a Kiev, mas fez questão de humilhar o líder ucraniano, exigindo “mais gratidão” por parte de um país que luta para não ser absorvido pelo expansionismo russo. Ao encerrar abruptamente a reunião e rejeitar um acordo que beneficiaria Washington, Trump mandou um recado claro ao mundo: a resistência da Ucrânia é um incômodo, não uma prioridade.
A reação da Rússia foi imediata. O Kremlin não precisou sequer fingir moderação: Kirill Dmitriev, enviado especial de Vladimir Putin, celebrou a humilhação imposta a Zelensky, e a mídia estatal russa retratou o presidente ucraniano como um subordinado indisciplinado que finalmente recebeu um puxão de orelha. Moscou sabe que, com Trump na Casa Branca, seus interesses estão protegidos. E isso não é uma suposição, mas um padrão de comportamento. Desde seu primeiro mandato, Trump tem sido um aliado involuntário — ou talvez não tão involuntário assim — do projeto de Putin de remodelar a ordem mundial.
Ao agir dessa forma, Trump não apenas enfraquece a Ucrânia, mas ajuda a consolidar um mundo dividido em três grandes zonas de poder: os Estados Unidos dominando o Ocidente, a China exercendo influência sobre o Pacífico e a Rússia recuperando seu império de esferas de influência na Europa Oriental e na Ásia Central. Esse mundo fragmentado é a antítese do que foi a hegemonia americana do pós-Guerra Fria. Para Putin, é a realização de um sonho. E Trump, ao que parece, é seu melhor “assessor”.
O enfraquecimento deliberado da Ucrânia
Desde o início da guerra em 2022, os Estados Unidos foram o maior financiador da resistência ucraniana, fornecendo armas, recursos financeiros e apoio político. Mas a administração Trump tem adotado uma postura cada vez mais cínica. Em vez de fortalecer a Ucrânia, o presidente americano parece empenhado em desestabilizá-la, questionando sua viabilidade como nação independente. Ao suspender apoio militar e diplomático, ele sinaliza ao Kremlin que Washington está disposto a deixar Kiev à própria sorte.
A fragmentação da ordem global
Trump nunca escondeu seu desdém pelas alianças internacionais. Durante sua primeira passagem pela presidência, atacou a OTAN, questionou a utilidade da ONU e minimizou a importância da União Europeia. Agora, sua estratégia parece clara: empurrar o mundo para uma nova configuração geopolítica, onde três grandes blocos — EUA, China e Rússia — dominam regiões inteiras sem a necessidade de mediação multilateral. Para Putin, que sempre sonhou com a fragmentação da influência ocidental, essa é uma estratégia conveniente.
A retórica anti-europeia
Se Putin quer ver a Europa fraca e dividida, Trump é o aliado ideal para esse plano. Ao longo dos anos, ele ridicularizou aliados europeus, ameaçou retirar os EUA da OTAN e colocou em xeque tratados comerciais. Para o Kremlin, uma União Europeia fragmentada e uma OTAN desacreditada facilitam avanços territoriais e reduzem a capacidade de resposta ocidental contra o expansionismo russo.
O alinhamento com autocratas
Trump tem uma longa história de elogios a líderes autoritários, incluindo Putin, Kim Jong-un e Xi Jinping. Ele parece admirar o poder concentrado e a falta de resistência institucional em regimes autocráticos. Esse tipo de comportamento enfraquece a narrativa democrática e fortalece regimes que buscam expandir sua influência sem prestar contas a seus cidadãos.
O isolamento ucraniano como estratégia
Ao rejeitar a necessidade de uma coalizão internacional forte para apoiar a Ucrânia, Trump a deixa cada vez mais isolada. Seu discurso sobre “gratidão” é uma cortina de fumaça para justificar cortes de ajuda e abrir espaço para uma solução negociada favorável a Moscou. Se Kiev for deixada sozinha, Putin terá caminho livre para consolidar seu controle sobre territórios ucranianos ocupados.
A divisão global em esferas de influência
Os EUA parecem caminhar para uma política externa baseada em “zonas de influência”. A América Latina e a Europa Ocidental seriam controladas por Washington, a Ásia Central e a Europa Oriental ficariam sob o jugo russo, enquanto o Pacífico e o sudeste asiático seriam dominados pela China. Esse modelo reconfigura a ordem mundial de forma perigosa, pois, incentiva disputas territoriais e conflitos regionais em vez de cooperação global.
O futuro incerto da hegemonia americana
A maior contradição da estratégia de Trump é que, ao enfraquecer a influência dos EUA no mundo, ele está minando a própria hegemonia americana. A retirada de apoio a aliados, a desmoralização de instituições multilaterais e a divisão do mundo em três grandes blocos não favorecem os EUA a longo prazo. Pelo contrário, criam um vácuo de poder que pode ser ocupado por adversários como a China e a própria Rússia.
O grande paradoxo é que, enquanto Trump se apresenta como um nacionalista feroz, sua política externa está construindo um mundo onde os Estados Unidos têm menos controle e menos capacidade de influenciar eventos globais. E, nesse jogo geopolítico, o maior vencedor não é o povo americano, mas sim Vladimir Putin.
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