Uma conversa fascinante com um best-seller
O autor cubano e best-seller do New York Times, Armando Lucas Correa, desembarca no Brasil com seu mais recente lançamento, “A Viajante da Noite”, pela editora Jangada. Nesta entrevista exclusiva concedida ao portal Panorama Mercantil, Correa conduz os leitores por uma imersão única nos meandros da criação literária, compartilhando não apenas as inspirações históricas que deram vida à trama, mas também os desafios de dar forma a personagens femininas multifacetadas. Ao explorar as décadas de 1930, 1950 e 1980 em cenários como Berlim e Havana, Correa destaca como os eventos como o Nazismo e a Revolução Cubana servem como pano de fundo para uma narrativa que transcende fronteiras temporais e geográficas. Esta entrevista oferece uma oportunidade rara de compreender a meticulosa pesquisa histórica do autor, mergulhando em questões de identidade cultural, superação de adversidades e a influência da poesia na construção de personagens inesquecíveis. Embarque nesta viagem literária exclusiva, onde Armando Lucas Correa desvenda os segredos e as emoções por trás de “A Viajante da Noite”. Explore as nuances da mente criativa de Armando Lucas Correa, enquanto ele compartilha a importância de equilibrar fidelidade histórica e narrativa envolvente. A entrevista revela insights sobre a escolha de ambientar momentos-chave da trama em locais emblemáticos como Berlim e Havana.
Quais elementos da história real inspiraram você a explorar a jornada dos personagens em “A Viajante Noturna”, especialmente considerando eventos como o surgimento do Nazismo e a Revolução Cubana?
Durante a pesquisa para “A Menina Alemã”, que levou mais de dez anos, comecei a estudar as Leis Raciais de Nuremberg, implementadas por Hitler na década de 30, e percebi que Hitler se inspirou nos estudos de eugenia realizados por dois médicos norte-americanos em Pasadena, Califórnia, na década de 20. A partir daí, comecei a desenvolver uma história centrada na eugenia.
Com o fio condutor do MS Saint Louis, com a conexão entre Cuba e o Holocausto, cheguei à história da Viajante Noturna.
Qual foi o desafio mais significativo ao criar personagens femininas tão complexas e multifacetadas, como Ally, Lilith, Nadine e Luna, num contexto histórico tão intrincado?
Como definir cada mulher a partir de sua própria época, conflitos e desafios. Elas deveriam ser completamente diferentes, todas unidas pela tragédia. A mais difícil de desenvolver para mim foi Nadine, porque ela não tem nenhuma referência de sua origem ou passado. É uma espécie de fantasma que descobre quem foram seus pais biológicos tarde na vida e, pior ainda, quem foram realmente aqueles que a adotaram.
Como equilibrou a necessidade de permanecer fiel aos eventos históricos, como as Leis Raciais de Nuremberg, ao construir uma narrativa cativante e emocional para seus leitores?
Sou jornalista, e para mim é muito importante ser fiel aos fatos, neste caso, à história. Mas, ao mesmo tempo, meus romances são sobre seres humanos. Para mim, é fundamental criar uma conexão emocional com o leitor por meio dos personagens.
Qual foi o papel da pesquisa histórica no desenvolvimento de “A Viajante Noturna” e quais fontes e métodos você utilizou para garantir a precisão dos eventos históricos retratados no livro?
Dedico anos à pesquisa. Até que eu domine bem o tema, a época, o fato histórico, não posso sentar para escrever. Com a pesquisa superada, a escrita flui muito mais. Como já disse, sou também jornalista, e a precisão do fato histórico é parte do meu trabalho.
Por que escolheu ambientar parte da história em Berlim em 1931, Havana em 1958 e Berlim em 1988, conectando esses momentos-chave na história do século XX?
Uma das sobreviventes do MS Saint Louis, que agora vive em Toronto, Canadá, me dizia que a história tende a se repetir e que não aprendemos com ela. Queria que isso fosse sentido em meu romance.
Quais aspectos da cultura cubana foram essenciais para a construção da trama, especialmente considerando o tenso cenário político durante a Revolução Cubana?
A história de Cuba foi vista de maneira romântica; ainda há muitos que não enxergam uma ditadura em um país onde não há eleições, imprensa livre, nem direito de discordar. Por pensar diferente, você pode acabar na prisão. Percebi que as ditaduras de direita são muito mais fáceis de rejeitar do que as de esquerda. Com as ditaduras de esquerda, tendemos a ter um olhar mais complacente. Uma ditadura é uma ditadura, e queria que o leitor visse dessa maneira.
Como as experiências pessoais dos personagens, marcadas por amor, perda e esperança, refletem a complexidade e diversidade das histórias familiares que enfrentaram desafios semelhantes durante períodos históricos turbulentos?
Meus personagens viveram em períodos muito conturbados de nossa história. Acredito que, por vezes, é bom olhar para trás e perceber como as democracias dependem de um fio muito fino. Como o ódio pode nos transformar em monstros.
Quais mensagens ou reflexões você espera que os leitores retirem de “A Viajante Noturna” em relação a questões de identidade cultural e superação de adversidades?
Temos medo do outro, daquele que pensa diferente de nós, que tem uma cor de pele diferente, uma orientação sexual diferente, acredita em outro Deus, enfim, até que não respeitemos nossas diferenças, o mundo não será melhor.
Por que escolheu usar a poesia como elemento central na história, especialmente por meio da personagem Ally Keller, e como isso contribui para a profundidade emocional da narrativa?
Uma das chaves para salvar Lilith das Leis Raciais de Nuremberg era que ela era inteligente, culta. Segundo essas leis, por ser uma mischling, uma criança de raça mista, ela era considerada inferior. Ter crescido com uma mãe poeta, um professor universitário, a expôs a um mundo que incentivou sua criatividade. Era importante que Lilith demonstrasse ser mais inteligente do que aqueles que a avaliavam.
Quais foram as maiores surpresas ou descobertas que você fez durante o processo de pesquisa e escrita deste livro, considerando a abordagem temporal e geográfica abrangente?
Que a eugenia continuou sendo praticada em alguns estados dos Estados Unidos até a década de 70, como mencionei nas notas do autor no final do livro.
Por que você acredita que é importante contar histórias que destacam as experiências de mulheres em diferentes épocas e contextos, e como isso pode contribuir para uma compreensão mais ampla da história mundial?
Cresci em um matriarcado, entre minha avó, minha mãe, minha irmã, minhas primas. Rodeado de mulheres fortes, decididas, profissionais, mesmo em épocas em que a mulher não tinha voz nem voto, como na época da minha avó. A Viajante Noturna é uma homenagem à mulher.
*Crédito da foto desta entrevista: Ciro Gutiérrez
Última atualização da matéria foi há 1 ano
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