As perdas nacionais no tarifaço do Trump
Em um anúncio que reverberou como uma bomba nos mercados internacionais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou no último dia 2 o que chamou de “Dia de Libertação”. A medida, contudo, está longe de simbolizar qualquer tipo de libertação para os países afetados — especialmente para o Brasil, que terá de lidar com uma tarifa de 10% sobre todos os seus produtos exportados ao mercado americano.
Apresentada como uma resposta àquilo que Trump classifica como “décadas de roubo econômico” contra os Estados Unidos, a nova política tarifária é parte de um projeto que visa impor tributos recíprocos a todos os países que praticam barreiras comerciais contra produtos americanos. De forma ostensiva, o presidente republicano listou uma série de nações e as respectivas tarifas: 34% para a China, 20% para a União Europeia, 46% para o Vietnã e assim por diante.
O Brasil, embora não esteja entre os mais penalizados, terá de arcar com o peso simbólico e prático de figurar na longa lista do protecionismo trumpista. Com uma tarifa de 10%, produtos como aço, celulose, carnes, calçados, café e derivados de soja, entre tantos outros, sofrerão impacto direto em sua competitividade.
O discurso de Trump carrega os traços típicos de sua retórica nacionalista, marcada pela insistência em slogans como America First e pela concepção de que o comércio internacional é um jogo de soma zero — onde os ganhos de um são as perdas de outro. Ao contrário do entendimento majoritário dos economistas, que defendem o livre-comércio como um motor de crescimento mútuo, Trump vê nas tarifas um instrumento de retaliação e coerção.
É importante lembrar que este não é um movimento isolado na trajetória política de Trump. Já em seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, o republicano travou uma guerra comercial com a China, impôs tarifas sobre o aço brasileiro e retirou os Estados Unidos de acordos multilaterais, como o Acordo Transpacífico. Sua reeleição em 2024, após vencer Joe Biden em uma campanha marcada por polarização e populismo econômico, representou uma clara guinada do eleitorado norte-americano em favor de medidas protecionistas.
Um golpe no agro e na indústria
Para o Brasil, o impacto imediato se concentrará no agronegócio, que tem nos Estados Unidos um de seus principais compradores. Produtos como carne bovina e suco de laranja, que já enfrentam dificuldades devido à concorrência interna nos EUA e aos lobbies agrícolas locais, tendem a perder ainda mais espaço. A elevação de 10% no preço final pode ser decisiva para a substituição de fornecedores.
O setor industrial também será atingido. Fabricantes brasileiros de autopeças, produtos químicos, têxteis e até mesmo de componentes eletrônicos veem nos Estados Unidos um destino estratégico. A nova tarifa compromete essa relação e obriga os exportadores a buscarem mercados alternativos — uma tarefa difícil em um cenário de desaceleração econômica global.
Outro ponto de atenção é a tarifa de 25% sobre veículos importados, que pode afetar empresas multinacionais com produção no Brasil voltada à exportação para o mercado americano. Embora o Brasil não seja um grande exportador de automóveis aos EUA, essa medida pode gerar um efeito indireto sobre as cadeias produtivas globais das quais o país faz parte.

O Governo brasileiro ainda não anunciou nenhuma medida de retaliação, o que levanta a discussão sobre a postura que o país deve adotar diante do novo cenário. Entrar em uma guerra comercial, como fizeram China e União Europeia no passado recente, pode ser perigoso. Mas a omissão também carrega custos políticos e econômicos.
No plano diplomático, a decisão de Trump representa um abalo nas relações multilaterais. Ao tratar o comércio como uma arena de revanche, os Estados Unidos se afastam ainda mais dos princípios que moldaram a ordem internacional do pós-guerra — e se isolam de seus antigos aliados.
Internamente, o Brasil precisa usar essa adversidade como oportunidade para repensar sua estratégia de inserção global. A dependência de poucos mercados, a baixa diversificação da pauta exportadora e a lentidão na celebração de acordos comerciais de nova geração tornam o país vulnerável a choques externos como este.
No final das contas, o tarifaço de Trump revela mais sobre os Estados Unidos do que sobre o resto do mundo: uma superpotência em busca de recuperar a hegemonia por meio da força bruta, enquanto ignora os mecanismos de cooperação que ajudou a construir. Para o Brasil, resta a difícil tarefa de minimizar os danos, encontrar novas rotas e, sobretudo, defender os interesses nacionais sem perder o equilíbrio.
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