Sua Página
Fullscreen

Dua Lipa: sinônimo de sexy appeal

Anúncios
Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!

Dua Lipa é, hoje, uma das figuras mais emblemáticas do pop internacional — um tipo raro de celebridade que parece ter sido moldada sob medida para a era da hiperexposição digital, dos memes autorreferenciais e do culto à performance. Não nasceu em Los Angeles, não veio da Disney e não fez reality show para aparecer. Nasceu em Londres, filha de pais kosovares, cresceu ouvindo música pop e rock dos anos 1990, mudou-se adolescente para o Kosovo, voltou para a Inglaterra e trabalhou como hostess em restaurantes, enquanto depositava covers no YouTube como quem vai polindo uma joia que sabe que vai brilhar. E brilhou. Brilhou até demais, para a alegria de uns e o incômodo de outros.

O charme de Dua Lipa está em sua capacidade de parecer simultaneamente acessível e inalcançável. Ela sorri com os dentes cerrados como quem diz “estou no controle”, dança com uma leveza calculada que parece espontânea e canta com aquela voz grave que soa como a de uma amiga que vive no limite entre o cinismo e o romance. Não há exagero vocal, não há arroubos de diva clássica. Dua trabalha na sutileza, no refrão viciante construído milimetricamente, na pose exata para o Instagram, na melodia que gruda feito purpurina depois do Carnaval.

“Há quem diga que Dua Lipa é “fria”, “calculada”, “coreografada demais”. Como se o pop, em sua natureza, não fosse justamente um exercício de engenharia emocional. Madonna, Beyoncé, Lady Gaga — todas operaram na matemática da imagem. Dua apenas atualiza o código para a geração que assiste videoclipes no TikTok e já não tem paciência para histórias longas ou grandes mistérios.”

Mas, para além da música, Dua Lipa virou um fenômeno cultural. Não apenas pelo hit New Rules ou pelo globo-disco Future Nostalgia, mas pelo que ela encarna: um sexy appeal que não pretende a vulgaridade explícita, tampouco a pureza inofensiva. Ela se coloca no terreno intermediário, perigoso e sedutor, onde a autonomia feminina se mistura com o cálculo mercadológico. Pois sejamos diretos: Dua Lipa sabe muito bem o que está vendendo — e sabe vender com gosto. Há quem veja nisso empoderamento; há quem veja comercialização da imagem feminina. Ambos têm motivos válidos.

Porém, o que realmente chama atenção é a forma como Dua administra sua própria persona pública. Enquanto muitas artistas exigem ser lidas como símbolos de algo — feminismo, resistência, arte experimental — Dua prefere ser símbolo de si mesma. Seu discurso é pragmático, quase empresarial: trabalhar, criar, performar e seguir. É como se ela tivesse compreendido a lógica do pop contemporâneo: ser uma marca sólida antes de ser um manifesto.

O pop como projeto arquitetônico

Future Nostalgia não foi apenas um álbum: foi uma tese de mestrado em pop brilhante, retrô e, ao mesmo tempo, futurista. Um projeto estético inteiramente consciente, construído para durar mais do que a moda do momento. Com influências declaradas de Donna Summer, Blondie, Prince e a era disco, Dua Lipa não tentou reinventar a roda — apenas a encerou, poliu e colocou para girar sob uma bola espelhada de milhões de dólares. Foi eficaz, foi pop, foi delicioso.

Leia ou ouça também:  Isabel Allende: sempre relevante e eletrizante

E é justamente essa eficácia que incomoda parte da crítica mais rígida. Há quem diga que Dua Lipa é “fria”, “calculada”, “coreografada demais”. Como se o pop, em sua natureza, não fosse justamente um exercício de engenharia emocional. Madonna, Beyoncé, Lady Gaga — todas operaram na matemática da imagem. Dua apenas atualiza o código para a geração que assiste videoclipes no TikTok e já não tem paciência para histórias longas ou grandes mistérios.

Além disso, Dua Lipa tem feito incursões no campo do mainstream cultural para além da música. Entrevistas com líderes globais, aparições em filmes, presença constante em front rows de moda. Ela parece compreender que ser artista pop em 2025 significa ser uma entidade multiplataforma, onde o corpo, a voz e a convergência cultural formam um só organismo vivo e comercializável. E ela navega isso com elegância de CEO.

Mas seria injusto reduzir Dua apenas ao marketing. Sua música, goste-se ou não, é sólida, eficaz, bem composta e bem produzida. Seus shows são coerentes, sua estética é consistente, sua presença é cativante. Talvez não estejamos diante de uma “revolucionária”, mas sim de uma “curadora de tendências”, alguém que não cria sozinha, mas que sabe sintetizar, reorganizar, reembalar e entregar da forma certa, no momento certo.

Lipa é, hoje, uma das figuras mais emblemáticas do concorrido pop global  (Foto: Wiki)
Lipa é, hoje, uma das figuras mais emblemáticas do concorrido pop global (Foto: Wiki)

No fim das contas, Dua Lipa personifica aquilo que o pop sempre buscou: a fricção entre o desejo e o espetáculo. Ela é sexy sem pedir desculpas, estratégica sem esconder, e pop sem vergonha. Uma artista que entendeu que, para continuar brilhando, não basta apenas cantar — é preciso saber jogar. E Dua joga como poucos.


Compartilhe este conteúdo com seus amigos. Desde já obrigado!

Facebook Comments

Anúncios
Acessar o conteúdo
Verified by MonsterInsights