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Enchente em SP: quem são os culpados?

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São Paulo, a maior metrópole do Brasil, mais uma vez se viu paralisada diante do caos provocado por uma tempestade. A cidade, que já deveria estar acostumada a enfrentar desafios climáticos, viveu na última sexta-feira, 24 de janeiro, um colapso urbano que expôs não apenas a intensidade das chuvas, mas a vulnerabilidade da infraestrutura pública, a gestão deficiente, e o descaso histórico com o planejamento urbano. O impacto foi significativo: cerca de 140 mil imóveis ficaram sem energia elétrica, dezenas de pontos de alagamento tornaram as ruas intransitáveis, e o sistema de transporte público, incluindo trens e metrô, sofreu interrupções e atrasos em várias linhas.

As imagens que circularam pelas redes sociais mostraram o desespero de moradores que perderam bens materiais, enfrentaram água invadindo suas casas e negócios, e se depararam com vias completamente alagadas. Escadas rolantes de estações de metrô se transformaram em cascatas, exemplificando o quanto a cidade está despreparada para lidar com tempestades que, embora fortes, não são eventos raros.

Enquanto o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo (CGE) emitiu alertas, o alívio para a população foi mínimo. Os avisos, mesmo úteis, não têm o poder de conter os efeitos do descaso de décadas com as áreas de risco, as ocupações irregulares e a impermeabilização excessiva do solo. Em um cenário onde governadores, prefeitos e construtoras dividem responsabilidades, a pergunta que emerge é clara: quem é o culpado?

A responsabilidade histórica das construtoras

Ao longo de décadas, São Paulo foi construída sob o signo do crescimento desordenado e da especulação imobiliária. Construtoras e incorporadoras têm sua parcela significativa de culpa ao promoverem projetos que ignoraram as características ambientais do terreno. Áreas que deveriam ser preservadas, como várzeas de rios, foram transformadas em bairros e empreendimentos de luxo, enquanto o concreto tomou o lugar de áreas permeáveis.

Esse modelo urbano, que prioriza o lucro em detrimento do planejamento sustentável, resultou na impermeabilização exacerbada do solo. Sem espaços para que a água da chuva seja absorvida, o sistema de drenagem da cidade, já precário, é sobrecarregado, agravando os alagamentos. Não basta apenas culpar o clima; o problema está na raiz da urbanização descontrolada, que favoreceu o asfalto em vez de soluções baseadas na natureza.

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Embora as leis ambientais existam, as construtoras muitas vezes as contornam por meio de incentivos econômicos ou da falta de fiscalização adequada. Essa cultura de impunidade contribuiu para um ciclo vicioso que torna São Paulo cada vez mais vulnerável a enchentes.

O papel da gestão municipal: Ricardo Nunes e as promessas não cumpridas

O prefeito Ricardo Nunes (PSDB), à frente da gestão municipal, carrega uma responsabilidade direta pela manutenção e ampliação das políticas de combate às enchentes. Durante sua gestão, projetos como piscinões, sistemas de drenagem e limpeza de córregos foram anunciados, mas a execução, na maioria dos casos, ficou aquém do esperado.

Apesar de medidas emergenciais como a emissão de alertas pela Defesa Civil, a falta de ações estruturais evidenciou o despreparo do município para lidar com o aumento da frequência de chuvas intensas. A drenagem urbana, que deveria ser prioridade, continua obsoleta, e áreas críticas da cidade permanecem sem atenção adequada.

Nunes também é criticado por não priorizar políticas de habitação que removam moradores de áreas de risco. Enquanto as favelas em encostas e margens de rios seguem ocupadas, a prefeitura falha em oferecer alternativas habitacionais dignas. A consequência disso é a repetição de tragédias anunciadas.

Tarcísio de Freitas e o impacto da gestão estadual

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também tem sua parcela de responsabilidade. Como chefe do estado, cabe a ele coordenar ações que transcendam os limites do município, como obras de infraestrutura em áreas metropolitanas e políticas ambientais que promovam a recuperação de bacias hidrográficas.

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Embora o governo estadual tenha anunciado investimentos em obras de grande porte, muitos projetos permanecem no papel. Além disso, a falta de integração entre as esferas estadual e municipal dificulta a execução de ações coordenadas. A ausência de uma política estadual robusta para mitigação de enchentes perpetua a vulnerabilidade de São Paulo a eventos climáticos extremos.

O discurso técnico que marca a gestão de Tarcísio não se traduziu em ações práticas e eficazes no enfrentamento do problema. Ao ignorar o planejamento de longo prazo e priorizar obras visíveis, como rodovias, o governador deixa de lado questões estruturais que impactam diretamente a população.

Os limites das políticas ambientais

As mudanças climáticas têm intensificado eventos extremos, mas a incapacidade de São Paulo em se adaptar a esse cenário revela falhas estruturais nas políticas ambientais. Projetos de renaturalização de rios e recuperação de áreas verdes, embora eficazes, são frequentemente deixados de lado devido à falta de prioridade política e à pressão econômica.

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A gestão das bacias hidrográficas, crucial para mitigar enchentes, é outro ponto negligenciado. A poluição de rios como o Tietê e o Pinheiros reduz sua capacidade de escoar grandes volumes de água, enquanto a ocupação de margens impede a implementação de soluções naturais.

Além disso, o desmatamento em regiões próximas à cidade, combinado com a ausência de políticas de reflorestamento, agrava a situação. A vegetação, que poderia atuar como uma barreira natural contra a erosão e os alagamentos, dá lugar a empreendimentos que apenas contribuem para o problema.

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A infraestrutura de transporte em colapso

As fortes chuvas evidenciaram a fragilidade do sistema de transporte público de São Paulo. Estações de metrô alagadas, linhas de trem interrompidas e congestionamentos quilométricos transformaram a mobilidade urbana em um pesadelo.

O governo estadual e a prefeitura dividem a responsabilidade por esse cenário. Enquanto a expansão e modernização do sistema ferroviário são constantemente prometidas, os problemas básicos, como manutenção e adequação das linhas existentes, continuam negligenciados. A falta de investimento em infraestrutura resistente às intempéries mostra o quanto o transporte público é visto como secundário.

A situação também reflete o impacto das políticas de incentivo ao transporte individual, que agravam o congestionamento e aumentam os problemas de drenagem urbana. Sem um planejamento integrado, São Paulo seguirá refém do caos toda vez que chover intensamente.

A cultura da reação em vez da prevenção

Um dos principais problemas na gestão das enchentes em São Paulo é a predominância de políticas reativas. Alertas de emergência, intervenções durante o caos e promessas de curto prazo substituem um planejamento consistente e preventivo.

A falta de mapeamento atualizado das áreas de risco, somada à ausência de investimentos em soluções inovadoras, como tecnologias de monitoramento e projetos de infraestrutura sustentável, impede avanços significativos. Governadores e prefeitos, independentemente de seus partidos, têm optado por apagar incêndios em vez de impedir que eles aconteçam.

A cultura da reação não apenas limita as possibilidades de mitigação, mas também perpetua a sensação de impotência da população. Sem mudanças estruturais, as enchentes seguirão sendo vistas como inevitáveis, mesmo que sejam, na maioria, evitáveis.

O papel da sociedade na cobrança de mudanças

Por fim, a população tem um papel essencial na cobrança de mudanças. A falta de mobilização cidadã em torno de temas como planejamento urbano, preservação ambiental e políticas de habitação reflete uma sociedade que, muitas vezes, aceita o caos como parte da rotina.

Embora movimentos sociais e ONGs lutem por melhorias, a pressão popular precisa se intensificar para que o poder público e as empresas sejam responsabilizados. Educação ambiental, participação em audiências públicas e engajamento político são ferramentas fundamentais para mudar o cenário.

As enchentes em São Paulo são resultado de um sistema que privilegia o lucro e a política de curto prazo em detrimento do bem-estar coletivo. Enquanto isso, a cidade segue alagada, e a pergunta “quem é o culpado?” ecoa sem uma resposta definitiva, mas com uma certeza: todos têm sua parcela de responsabilidade.


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